28 de fevereiro de 2019

Flores de jambo

As pétalas das flores de jambo caíam no chão e formavam uma espécie de tapete de camurça rosa. Eu tinha vontade de deitar naquele tapete, mas nunca deitei. Havia formigas pelo chão e a minha vontade de contemplar era maior que a de experimentar.

Queria reter aquilo comigo para sempre. Nessa tentativa, levei um punhado de fios rosa para casa, guardei dentro da agenda, como toda adolescente faria. No entanto, para minha frustração, os fiapos rosa apodrecerem, ficando marrons e moles e um pouco úmidos. Parece que a beleza daqueles momentos, quando o jambeiro se preparava para dar frutos, só podia ser armazenada na memória.

Hoje, tão distante da minha adolescência e diante da impossibilidade de saborear um jambo, fecho os olhos e ainda vejo, não, ainda sinto aquele tapete diante de mim, se mostrando para todos e ninguém em especial, apenas existindo e fazendo o que precisava fazer.

E eu aqui, pensando no que deveria fazer. O que preciso fazer? O que quero fazer? Se desejo é o que fica depois que a necessidade passa, quais são os meus desejos? Mas, enquanto penso e não penso sobre isso, vou vivendo e fazendo o que precisa ser feito.

Talvez eu seja mais parecida com uma árvore do que podia imaginar. Mas não quero ser um jambeiro ou uma macieira... não quero ser uma árvore! O que quero ser? Novamente: o que desejo? Naquilo que desejo, eu sou. Mas como posso desejar a mim mesma? Como se faz isso?

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