19 de novembro de 2015

Álbum

Em uma mala esquecida nos fundos de casa encontrei pedaços da minha vida. Eram papéis firmes, devidamente cortados em dimensões que desconheço, marcados com sorrisos banguela, franjas bem cortadas, cicatrizes, amigos, avós sem cabelos brancos, primos barrigudos, primos magricelas, tias com cabelos cacheados, tios distraídos em churrascos, uma mãe sarada e um pai tirado a guitarrista. Eram fotografias, tiradas há tanto tempo. Era eu, recém-nascida, construída, vivida. Por que abandonamos o hábito de guardar fotografias? Por que temos estado menos reflexivos sobre nossa própria vida? 

Aquelas fotos, tiradas sem nenhuma técnica, me fizeram recordar dos meus momentos de muita e pouca luz, das capturas acidentais e programadas, dos sorrisos espontâneos e artificiais, dos cílios molhados por água da piscina e por lágrimas. Sim, nossa vida é marcada por antíteses que, juntas, completam o álbum que nós somos. Cansei de não registrar os momentos no álbum. Decidi colecionar cada evento para contemplação posterior. 

Nos últimos dias tenho colecionado muitas surpresas. Ganhei um presente que talvez tenha passado a vida desejando. Fotografei, adicionei ao álbum da minha vida, guardei para sempre. E quando vierem os momentos de pouca luz (porque eles sempre aparecem), terei muito o que recordar, pois as fotografias boas sempre podem superar as ruins.

Então, querido, te convoco a estar ao meu lado, num enquadramento nem sempre perfeito, disposto a compor as cenas que farão parte do meu cotidiano de agora para sempre.

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