14 de outubro de 2015

Brasa

Era um tempo frio, cinzento. Era primavera e as flores nas árvores agitavam-se com o vento que soprava de leste para oeste. Arrepios lhe tomavam o corpo por breves e repetidos momentos, enquanto tentava, em vão, realizar as atividades do cotidiano. Era grande o frio que sentia e a imagem da fogueira queimando na sua cabeça intensificava os calafrios. Queria tocar o fogo, até mesmo tomar a brasa nas mãos. "É perigoso", dizia sua intuição. Mas ainda assim... Precisava daquele calor! Não havia instrumentos para prevenir as queimaduras, as dores seriam agudas e certas, mas agora seu único desejo era ser consumida, virar labaredas daquela fogueira. Viraria cinzas tão logo se deixasse queimar e depois seria levada pelo vento, aquele mesmo vento que soprava para oeste, tentando levar consigo flores, poeira, cinzas, na tentativa de ser mais substancial do que uma brisa de primavera.

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