29 de junho de 2015

Corvos

Os corvos estão por toda parte.
Eles me perseguem na vigília e no sono; suas asas negras recaem sobre a minha visão a todo instante. Mas ainda assim vejo com nitidez a desolação ao meu redor, em cores e em movimento, e o meu corpo se move num ritmo frenético, às vezes arqueando e submergindo, às vezes num balanço horizontal, tentando escapar em todas as direções.

Mas ainda assim, os corvos me perseguem. Com seus bicos afiados fazem furos na minha cabeça e deixam fluir problemas. Eles não escoam para o buraco mais próximo. Não. Ficam empoçados ao meu redor, sem jamais me perderem de vista ou de contato.

Às vezes os corvos grasnam e o líquido ao meu redor se revolta, como que atendendo a um chamado, e de repente sou uma garrafa de vidro vazia no meio de uma imensidão oceânica de problemas: flutuando para sempre presa naquele infinito aquoso, correndo risco de rachadura ou quebra, às vezes tão cheia de problemas que chego ao fundo e lá permaneço até que alguém possa me ajudar a sair. Já alcancei a margem de mim mesma, mas os problemas sempre me lambem os pés com suas ondas. Além disso, sempre há corvos me vigiando.

Bicos, asas e olhos negros me perseguem. E eu tenho medo.

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