19 de agosto de 2011

Da Ana, carta 1

Zé, tô te escrevendo porque não estou nada bem. Sinto uma tontura fortíssima e um aperto permanente no peito. Mas nada que um médico possa resolver. Um analista, quem sabe. Ando falando comigo mesma, repetindo milhões de vezes que as coisas não vão acabar bem. Nunca fui tão vazia. A alegria, o carinho, a esperança, o amor, mesmo a felicidade passageira que me assaltava de vez em quando, foram embora pra não sei quando voltar. Os olhos que você conhece bem, os pés magros que não se confundem com o de outra pessoa, tudo, tudo em mim é preenchido por uma angústia sem limites. Sabe aqueles bonecos que são na verdade um grande saco vazio, preenchido com ar?Pois essa sou eu, Zé. Um imenso vazio, cheio com algo que ninguém vê. Tenho dormido bem, até sonhado, mas acordo todos os dias como se estivesse imersa no nada. Você sabe que sempre gostei da ideia da minha vida ser uma folha em branco, pra que eu pudesse rabiscar, colorir, escrever, fazer o que quiser. Mas o branco que vejo agora, ao acordar e quando fecho os olhos, não é uma oportunidade de arriscar e tentar ser feliz, é a loucura me chamando, me mostrando que não tenho mais nada, que nenhuma pessoa me cabe e nenhum lugar quer fazer parte de mim. Quando penso nas incontáveis horas em que vou ter que encarar as pessoas no mundo, dá uma tristeza tão grande! Estou com medo, Zé. Minha vida não me cabe mais. Me diz, dá pra reconstruir? Aprendi a ser mais pessimista do que nunca, então sei, com toda certeza, que vou olhar pra mim mesma amanhã e não me reconhecer. Porque a cada dia sou uma pessoa nova e a cada noite me estrago um pouco mais, até que minha existência desapareça e fique apenas uma massa quente e permanente. Porque minha angústia é quente e se renova dia após dia. Vem me buscar, Zé. Não aguento mais. Me tira de mim.


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