7 de julho de 2011

Mais um aniversário ou Das coisas que precisam realmente ser ditas

Esperei algum tempo para escrever esta carta. Acumulei ausências, me enchi de vazios, e agora estou pronto pra te dizer tantas, tantas coisas. Por que você não está aqui me olhando admitir meus erros e sofrendo os diabos fingindo que está tudo bem, que o seu vestido no armário é normalíssimo? Eu sei bem que o teu silêncio, os teus olhos sempre translúcidos, a sua pele marcada da adolescência, me intimidariam, me deixariam nervoso. Mas eu preciso de você. Preciso de você aqui pra me trazer de volta a tensão de sentir-se vivo. Sabe que eu trouxe aquele jogo de cama que você me deu dizendo que eu nunca trocava os lençóis do apartamento? Vez em quando eu deito nele, me enrosco completamente, imaginando as tuas mãos verificando o tecido, os teus olhos observando atentamente cada detalhe das listras presentes nele. Dá uma angústia tão grande, pequena! Saber que andas pela cidade sozinha, que eu não estou contigo pra dizer diariamente "cuidado, menina. A cidade é perigosa e você anda tão distraída!" Gostaria de voltar. Quero voltar hoje, agora, ontem também quis e o amanhã fica fácil de prever. Tenho uma mala pronta no armário. Aliás, essa mala nunca desfiz, porque sempre achei que voltaria em poucos instantes. Os instantes tornaram-se tantos que já perdi a conta! Não sei se esse é o 2º ou 3º aniversário da cidade que acompanho, se assisti a 1 ou 2 olimpíadas aqui. A única coisa que sei é que você me faz falta. E isso me acompanha desde o momento que acordo e vejo uma escova de dentes solitária, até a noite, quando sobra espaço demais na cama. Adquiri um novo hábito: todo final de semana vou à lugares movimentados e procuro casais onde posso reconhecer nós dois. Dois adolescentes de mãos dadas, compartilhando um começo de vida, um casal de idosos discutindo como se estivessem no início do relacionamento, um homem e uma mulher entrando no mesmo carro, compartilhando afetos, destinos e algo a mais. Tantas coisas lembram nossa história, nosso amor. Eu posso acordar cedo para o trabalho e nunca chegar atrasado, posso almoçar em lugares exóticos todos os dias, posso rir das piadas que me contam, posso sair com uma multidão de amigos ou com algumas mulheres, posso muito bem fingir a vida inteira que sou feliz. O que eu não posso mais é deixar de te dizer o que eu sinto e senti nesses anos que estivemos separados. Sei que você segue a vida sem mim, mas eu não posso continuar sem você. Peço perdão pelos erros que escutei você dizer inúmeras vezes e não me esforcei em mudar. Agora, sem conseguir ter dito tudo que pretendia, peço: me deixa voltar pra casa. Me deixa voltar pra nossa vida, minha pequena.

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