18 de fevereiro de 2015

Impropério

Ela vai chegar com aquela boca vermelha que tanto amo. Porra de batom! Tira toda minha lucidez. Se quer saber, querida, perco o ar ao te ver abrir e fechar a boca. Cada palavra que sai de você envolve o meu cérebro e o transforma em merda. Você e o seu abre e fecha de boca. Abre e fecha. Abre e fecha. Abre e fecha...e me captura. Como um animalzinho, me perco dentro de você. Me perco em suas curvas. Você parece uma estrada sinuosa, com morros que me prendem a atenção e me deixam mais perto das nuvens. Em você eu viro rio em segundos. E eu sei que você odeia a rapidez com que me transponho, mas não consegue entender,querida? Você carrega algum encantamento, de modo que é impossível habitar o seu corpo, por algum tempo, sem se deixar levar. Não prometo que farei o possível para encontrar uma poção que te livre do encantamento, porque você sabe muito bem da minha vocação para vilão. Desculpe, mas terei que parar com os devaneios, porque você se aproxima.

Beijo-a com avidez e o rio começa a correr dentro de mim.


Você pensa que sou uma dessas garotas que come depois da aula. Sim, eu sei sobre elas. Até imagino você e o seu ego crescendo e o seu gozo solitário acabando dentro de segundos. E as garotas sem tempo de dizer “Oh, baby, I need...” E a necessidade, interrompida, fica contida nelas mesmas. Mas minha relação com você é de outra natureza. Eu não perco o assunto da aula por me concentrar nos seus lábios. Eu não me arrumo especialmente pra você. Eu gosto de quem sou e de como sou e é sorte sua gostar também do meu sutiã rendado, do meu batom vermelho, das minhas curvas naturais. É muita sorte tua que eu deixe você me percorrer “sem pagar pedágio”. E essas aspas são só pra dizer que você paga, sim. Mesmo sem saber. O calor da sua língua em mim vale muito. Os seus beijos infinitos valem muito mais.


- Não, não apague a luz! Não preciso da escuridão, quero-te com toda certeza.


O seu vestido e a minha camisa estão fundidos no chão. Sua calcinha já nem sei qual é a cor. Preta? Roxa? Vermelha? Prateada? Não importa. Querida, você é feita de todas as cores do mundo e eu sou, ao mesmo tempo, o artista que te possui e o admirador que te contempla. Essa luz de fim de tarde, filtrada pelas cortinas, paira sobre o seu corpo nu e tenho certeza que o mundo foi estrategicamente planejado para fazer de ti um espetáculo iluminado. Aqui, deitado entre o nosso suor, com a sua cabeça apoiada no meu peito e a sua respiração me fazendo cócegas, amo-a silenciosamente. Ainda que não saibas.


E ela sorri enquanto dorme, sem saber se sonha ou se a vida finalmente resolveu ficar melhor.

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