tag:blogger.com,1999:blog-37710765812935227922023-11-16T04:37:57.925-08:00 Relicário de BrevidadesCamila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.comBlogger83125tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-50776359122161994762019-04-03T23:29:00.001-07:002020-08-09T06:38:23.194-07:00Estou dentro do trem e tem uma cobra no meu braço<div style="text-align: justify;">
<span face="" style="font-family: georgia;">Fui andando para a estação, como faço quase todos os dias. Por causa de um possível calo no mindinho do pé direito, meu sapato - o mesmo de quase todos os dias - parecia mais uma madona (aquela máquina de tortura na forma de um caixão cheio de estacas, não a cantora) do que um item de proteção para os meus pés, me fazendo levar o dobro do tempo habitual para chegar ao meu destino. Felizmente não era um dia de vento frio, porque já estava de bom tamanho andar mancando e cheia de bolsas, dada a minha inabilidade para ser objetiva; eu realmente não precisava chamar mais atenção com espirros e uma enxurrada de lágrimas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span face="" style="font-family: georgia;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span face="" style="font-family: georgia;">Enfim cheguei até a estação. O trem não havia chegado e na pontinha de um dos bancos havia uma mulher sentada. Sentei também, mas na ponta de um outro banco. Aos poucos as pessoas começaram a encher a estação. Como ainda faltavam cerca de 10 minutos para o trem chegar, algumas sentaram para esperar, claro; nenhuma ao meu lado, claro também. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span face="" style="font-family: georgia;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span face="" style="font-family: georgia;">(Nesse ponto, é preciso abrir um parênteses para explicar uma coisinha: no meu Japão, dificilmente vi os japoneses sentarem próximos de estrangeiros; sendo eu uma mulher e estrangeira, então, as chances são quase nulas, mesmo que o assento ao meu lado seja o único disponível no ônibus, no trem ou na estação). Agora voltemos à estação...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span face="" style="font-family: georgia;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span face="" style="font-family: georgia;">O trem já havia chegado e escolhi sentar próximo a uma das portas, pois logo precisaria descer. Algumas pessoas entraram em seguida, na mesma e em outras estações e, num acordo velado entre elas, resolveram se espremer para caber num banco extenso posicionado à minha frente, enquanto o meu banco, igualmente espaçoso, permanecia quase vazio.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span face="" style="font-family: georgia;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia;"><span face="">Mais uma parada. Dessa vez, um milagre: um jovem estudante sentou-se ao meu lado. Surpresa diante do acontecimento, me forcei a olhar para frente, em direção à paisagem que corria na janela, ao invés de olhar para o rapaz ao meu lado. Fiquei pensando sobre a quantidade de vezes que somos tocados por algo inesperado, assim como aquela borboleta que via da janela, pousando no galho de uma cerejeira, podia ser facilmente engolida por uma cobra qualquer dia desses e... <i>Ahh</i>! O que é isso no meu braço? Tem alguma coisa mole, se movendo em contato com a minha pele! Preciso olhar, preciso olhar, pode ser uma cobra. Coragem! Vou olhar: minha nossa! Era só um braço. O garoto ao meu lado estava procurando alguma coisa na mochila e por isso o braço dele encostava no meu. E veja só, ele parecia não se importar! Não sei o que deveria me surpreender mais nessa situação, o contato humano inesperado ou o fato do meu cérebro achar que seria mais plausível uma cobra tocar o meu braço do que um outro ser humano dentro de um trem numa cidade qualquer do Japão.</span><br />
<span face=""><br /></span>
<span face="">Cheguei ao meu destino e desci, quase rastejando, rumo à rotina que me esperava, me esgueirando entre os outros, tentando passar despercebida, como uma cobra, percebi, de repente.</span></span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-88014871521327505642019-03-28T17:26:00.003-07:002020-08-09T06:39:06.009-07:00Sou o que posso ser<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxUJiLVxmTST25SLzWwHgH9uv577u16zhwtXv0AmiZLtP6UTQxkKyRWBvE93P44tDOdct1__DMxpQsegNSbNjZTNpU2Fj279ib30ydN3s77SEhQLYaK3lhyeIeBuT7Bq4nx_Pcok_2JsM/s1600/IMG_20190329_091830.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1197" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxUJiLVxmTST25SLzWwHgH9uv577u16zhwtXv0AmiZLtP6UTQxkKyRWBvE93P44tDOdct1__DMxpQsegNSbNjZTNpU2Fj279ib30ydN3s77SEhQLYaK3lhyeIeBuT7Bq4nx_Pcok_2JsM/s320/IMG_20190329_091830.jpg" width="239" /></a></div>
<div dir="ltr">
<span><br /></span></div>
<div dir="ltr">
<br /></div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;">
Um trem não pode andar sobre dois trilhos ao mesmo tempo. Eu também não, mas não sou um trem.</span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia;"><br /></span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia;">E as pedras que preenchem os espaços vazios entre os trilhos, será que podem tocar dois lugares ao mesmo tempo? Talvez sim, quando o trem está em cima delas e o chão está por baixo. Eu também posso tocar muitas coisas ao mesmo tempo: o ar, o chão, a roupa na pele, a pele de outras pessoas. Mas também não sou uma pedra.</span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<span><br /></span></div>
<div dir="ltr">
<span><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWvMyVCwj1x2pVu9sdzb4lBapoK32EiHd8rm997I5wX6z28lnlmeQ0qXHQry8EJmEEhNW2TXDa3FnSWwCxnTzwn6lT8voTB9RLVh2oTyJ3yWVuUOC58Dsl-BEzDSnnVv77zupA1spjOZA/s1600/IMG_20190329_091813.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1197" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWvMyVCwj1x2pVu9sdzb4lBapoK32EiHd8rm997I5wX6z28lnlmeQ0qXHQry8EJmEEhNW2TXDa3FnSWwCxnTzwn6lT8voTB9RLVh2oTyJ3yWVuUOC58Dsl-BEzDSnnVv77zupA1spjOZA/s320/IMG_20190329_091813.jpg" width="239" /></a></div>
<div dir="ltr">
<span><br /></span></div>
<div dir="ltr">
<span><br /></span></div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia;">Um pássaro pousa sobre a pedra que está nos trilhos do trem. Ele bica uma planta e se alimenta de algo que não posso ver. Um trem vem chegando e o pássaro aproveita enquanto pode, depois voa para longe, com a proximidade limite da máquina. Penso que o pássaro não queria ser a pedra, caso contrário estaria esmagado entre o trem e o chão. E se ele fosse o trem, se afastaria cada vez mais do alimento naquela planta, sem escolha, sem poder voltar atrás e ficar o quanto quiser. Se o pássaro fosse eu, sentiria medo de si, olhando o outro lado dos trilhos do trem, temendo que o pássaro voasse em sua direção.</span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span><br /></span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cccccc;">O pássaro só pode ser o pássaro; eu <b>posso</b> ser eu.</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-48221381288870272242019-02-28T17:46:00.001-08:002019-04-03T23:33:14.019-07:00Flores de jambo<div style="text-align: justify;">
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 1,00em;">As pétalas das flores de jambo caíam no chão e formavam uma espécie de tapete de camurça rosa. Eu tinha vontade de deitar naquele tapete, mas nunca deitei. Havia formigas pelo chão e a minha vontade de contemplar era maior que a de experimentar. </span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 1,00em;"><br /></span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 1,00em;">Queria reter aquilo comigo para sempre. Nessa tentativa, levei um punhado de fios rosa para casa, guardei dentro da agenda, como toda adolescente faria. No entanto, para minha frustração, os fiapos rosa apodrecerem, ficando marrons e moles e um pouco úmidos. Parece que a beleza daqueles momentos, quando o jambeiro se preparava para dar frutos, só podia ser armazenada na memória.</span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 1,00em;"><br /></span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Hoje, tão distante da minha adolescência e diante da impossibilidade de saborear um jambo, fecho os olhos e ainda vejo, não, ainda <b>sinto</b> aquele tapete diante de mim, se mostrando para todos e ninguém em especial, apenas existindo e fazendo o que precisava fazer.</span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 1,00em;">E eu aqui, pensando no que deveria fazer. O que preciso fazer? O que quero fazer? Se desejo é o que fica depois que a necessidade passa, quais são os meus desejos? Mas, enquanto penso e não penso sobre isso, vou vivendo e fazendo o que precisa ser feito. </span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 1,00em;"><br /></span></div>
</div>
<div dir="ltr">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: 1,00em;">Talvez eu seja mais parecida com uma árvore do que podia imaginar. Mas não quero ser um jambeiro ou uma macieira... não quero ser uma árvore! O que quero ser? Novamente: o que desejo? Naquilo que desejo, eu sou. Mas como posso desejar a mim mesma? Como se faz isso?</span></div>
</div>
<br />Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-53659818554602492882017-09-25T00:13:00.001-07:002017-09-25T00:25:38.119-07:00O lado vazio do varal<div style="text-align: justify;">
Posso ir onde você não está. E hoje sei disso mais do que já soube um dia. Mas não quer dizer que seja bom do lado de cá, sem você. Quero colocar minha sandália ao lado da tua, para lembrar de quão diferente somos, mas estamos juntos. Minha testa sente falta do seu beijo. Não, cada centímetro da minha pele chama pela tua: testa, clavícula, palma da mão... Todos os lugares menos provavéis de mim sentem falta do seu toque. O varal está completo pela metade, apenas com roupas minhas: aquela blusa azul com bolinhas brancas - que você tanto gosta, a toalha que compramos juntos, a saudade esfregada, lavada, renovada, disposta no lado vazio do varal. Um avião no céu me lembra que você irá chegar. Te espero, meu bem, para enfeitarmos os domingos.</div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-76114441217201915232017-05-17T10:13:00.001-07:002017-09-25T00:26:02.359-07:00Encontro após desenccontro<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Acabei de passar um café. Espero que não demore ou vai esfriar. Espero que traga aquele biscoito que gostamos de dividir. Gostávamos. Desculpe. Ainda acho que você vai chegar. Ainda olho nossas fotos. Ainda escuto as mesmas músicas. E o meu cabelo ainda se transforma numa confusão de nós quando o lavo. Mas você já não está aqui, reclamando da quantidade de fios caídos no chão, enquanto segura algumas mexas e me ajuda a desembaraçá-lo. Você não está aqui. Mas acabou de chegar. Tocou a campainha, como o visitante que se tornou, eu abri a porta , como a moradora ansiosa à espera do eterno hóspede. Te cumprimentei com um abraço rápido, 2 segundos talvez. 2 segundos. Reparei que usou condicionador, estava sem pulseiras, retirou o brinco, esqueceu de passar a gola da camisa (como sempre) e continua a usar o mesmo perfume. Como disse, 2 segundos. Você trouxe os biscoitos e também uma barra de chocolate; quem sabe para me lembrar de que as coisas já não são exatamente como antes. Em todo o caso, te convidei para sentar no sofá, enquanto pegava o café e as canecas. Mas você levantou e foi à cozinha, abriu o armário sem que eu precisasse dizer onde ficavam as canecas; quem sabe para me lembrar de que algumas coisas não mudaram tanto. Até você partir, terei escrito um livro de teorias criadas a partir da minha interpretação do seu comportamento. Talvez sejam teorias falsas, mas mentiras não são novidade no mercado editorial. E eu estou divagando sobre tantas besteiras na tentativa de conter um outro pensamento, mas ele é maior ou talvez eu realmente queira pensar nisso: já pude olhar de perto esse sinal minúsculo que você tem abaixo do lábio inferior, do lado esquerdo. Tanta coisa pra lembrar e eu estou pensado em algo tão insignificante. Um sinal. Minúsculo. Na sua boca. Um silêncio repentino. Não estava escutando o que você dizia, por isso fiquei calada. Eu achava que o silêncio era um perigo, mas perigoso mesmo são os gritos na minha cabeça. Na vida do lado de fora dos meus pensamentos, sirvo o café, uso 2 colheres de açúcar no meu e você ri, relembrando as nossas discussões sobre a importância de saborear o café puro. Eu sorrio de volta e nos sentamos no mesmo sofá. Trocamos novidades, dividimos os problemas e mais uma vez, compartilhamos o silêncio. Mas agora a chuva começou a cair lá fora e temos uma distração. O barulho de chuva forte ocupa o espaço entre nós por algum tempo e, como esqueci de contar os turnos da conversa, já não sei de quem é a vez de falar. Você começa, sugerindo que a gente divida o chocolate. Muito gostoso, por sinal. Então você diz que está na hora de voltar pra casa. Prometemos nos encontrar lá da próxima vez. Peço que me avise ao chegar, abro a porta, você me abraça mais uma vez, um pouco mais demorado. É isso. Você foi embora. Recolho as canecas sujas para levá-las à pia e... Na cozinha, um embrulho em cima da geladeira: uma caixa com biscoitos e o bilhete: "Para você ter uma dose extra de açúcar acompanhando o café". No fim, ainda são os nossos biscoitos. No fim, talvez ainda sejamos nós dois.</span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-57757107363650850192017-03-15T07:49:00.000-07:002017-03-15T07:54:38.587-07:00"QUANDO NIETZSCHE CHOROU"<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0_tsN5QcnhbPYp3qyolfaAYHf3x5MrN5QjKwybqIvIVfaxPnbi_Ndo4K6sLlz1rhjA-psryJh_Jp1-n_c5XtIAT6HGHnhNlFaqRhiSOooNA_3GCKwq_kW1UXK4RtkbRU5GPCfkuZFI40/s1600/quando-nietzsche-chorou.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0_tsN5QcnhbPYp3qyolfaAYHf3x5MrN5QjKwybqIvIVfaxPnbi_Ndo4K6sLlz1rhjA-psryJh_Jp1-n_c5XtIAT6HGHnhNlFaqRhiSOooNA_3GCKwq_kW1UXK4RtkbRU5GPCfkuZFI40/s320/quando-nietzsche-chorou.jpeg" width="210" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Sobre este livro, meu primeiro conselho é: cuidado. Não é recomendado que você se atire de cabeça à esta leitura sem conferir previamente sua sinopse, pois você deve saber, a priori, que trata-se de um romance que mistura, brilhantemente, realidade e ficção, de modo que a um leitor leigo no assunto (o surgimento da "cura através da palavra", ou da futuramente conhecida "Psicanálise") seja difícil diferenciar os fatos reais e ficcionais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Irvin D. Yalom explora lindamente a liberdade poética da criação literária ao nos apresentar em 402 páginas (descontando a sessão de "Nota do autor") uma história sobre angústias e crises existenciais de dois grandes nomes da Medicina e Filosofia: Josef Breuer e Friedrich Nietzsche, respectivamente. Ainda outro personagem de importância histórica comparece na trama, de maneira discreta: o ainda jovem estudante de medicina, Sigmund Freud.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Em diálogos perturbadores entre as personagens, o autor nos faz refletir sobre questões profundas como o medo, a doença, o envelhecimento, a morte, o amor, o desejo e o sentido da vida. As angústias compartilhadas por Breuer e Nietzsche talvez não sejam subjugadas pelo tempo, nem habitem, exclusivamente a cabeça dessas pessoas, mas são compartilhadas por muitos de nós, mesmo agora ou depois.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Temo não conseguir resumir as impressões deixadas pela obra. Penso que talvez fosse um pecado incorrer à tal tentativa. A força das palavras do autor, emprestadas aos atores da história, merecem ser apreciadas tal como foram de fato apresentadas, por isso, não me estenderei nos comentários e finalizo esse texto deixando a obra falar por si mesma, tomando a liberdade de unir dois momentos distintos da narrativa, por achar que se complementam : </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: xx-small;">Nas páginas 329 e 330:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;">- Eis a minha lição para você (Josef): <i>Morra no momento certo!</i> (...) Viva enquanto viver!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;">- (...) O que isso significa? - perguntou Breuer (...).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;">- Pergunte a si mesmo, Josef: Você consumiu sua vida? (...) Você viveu sua vida? Ou foi vivido por ela? Escolheu-a? Ou ela escolheu você? Amou-a? Ou a lamentou? Você a esgotou? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: xx-small;">Na página 375:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;">- (...) Graças a você (Nietzsche), percebo que a chave para viver bem é <i>primeiro desejar aquilo que é necessário e, depois, amar aquilo que é desejado</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;">- (...) <i>Amor fati</i>, ama teu destino!</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">__________</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Dados da obra</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Título: Quando Nietzsche Chorou</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Título original: When Nietzsche wept</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Autor: Irvin D. Yalom</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Editora: Ediouro</span></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ano de publicação: 2005</span></span></div>
</div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-35748971115716643692017-03-15T06:14:00.000-07:002017-03-15T06:19:35.461-07:00Antropofagia emocional<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Uma verdade precisa ser contada: ontem chorei enquanto comia um biscoito. Não foi pelo biscoito, mas pela lembrança que ele me trazia. Lembrei do último biscoito compartilhado com o meu avô. Ele, que sofria de Alzheimer, na última vez em que esteve na cidade, insistiu para que dividisse o biscoito com ele, mesmo estando há mais de oito horas sem comer por conta de um exame que havia realizado. "Coma, minha filha! Aqui tem pra nós dois." - ele disse. E assim nós compartilhamos um pacote pequeno de biscoito salgado. Na verdade, compartilhamos mais, muito mais. E eu nem desconfiava que depois, quando já não haveria mais o gosto salgado do biscoito na minha boca, a vida ficaria amarga de repente. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Depois da lembrança, voltei a comer o biscoito. Já não era mais fome, não era mais carboidrato que eu botava pra dentro de mim, mas em cada pedaço que mastigava, deglutia lembranças nossas. E chorei novamente. Um choro discreto, sem tensão facial, sem nariz escorrendo, apenas lágrimas que deslizavam sobre a face. O irônico é que muitas vezes fui invadida por lembranças semelhantes enquanto olhava fotografias em casa, sozinha, mas não chorava, apesar de estar triste. Porém, naquele momento, em meio à tantas pessoas desconhecidas, foi impossível conter o choro. Talvez por me dar conta de que, embora o mundo seja repleto de gente, jamais vou poder dividir um biscoito com meu avô novamente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O biscoito acabou. A saudade... Ah, essa criou raízes!</span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-43065023174283258572017-03-06T16:35:00.002-08:002017-03-15T05:53:38.110-07:00À espera do extraordinário<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Sabe, camarada, se eu tivesse uma poupança ou mesmo um emprego bem remunerado, hoje seria aquele momento decisivo (como li por aí) em que largaria tudo por aqui e mudaria de país, levando uma mala e o meu amor; ou pelo menos daria o pontapé inicial nos planos de reservar o meu salário para uma viagem prolongada, em breve, no caso da segunda opção de vida ser a verdadeira. Mas não é. Tampouco a primeira. A verdade mesmo é que nem tenho passaporte e de idioma estrangeiro, só entendo o básico de espanhol, ainda assim, desenvolvendo-me melhor na escrita e na escuta. Então veja o que seria: muda em terras estrangeiras. Sobre o emprego, o que posso dizer, com certa felicidade até, é que, em tempos de recessão econômica no país, eu o tenho. O salário é vergonhoso, mas com ele consigo comprar uma fatia de torta na doceria próxima à da casa dos meus pais, que por sinal, é onde vivo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Mas enfim, estou adiando o assunto principal desta prosa. Hoje, enquanto esperava o fim do expediente, desconfortavelmente sentada em uma cadeira de escritório - embora não trabalhe em um - mal ajustada à minha (e a de qualquer pessoa, eu diria) anatomia, pensava sobre o meu extraordinário. O extraordinário é equivalente ao clímax dos romances, do teatro. Aquele momento em que tudo muda e nos atinge de surpresa. Pensei que o meu extraordinário demorava a aparecer e duvidei da sua chegada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Na (esperada) volta pra casa, após a leitura de dois contos do Júlio Cortázar, num ônibus apinhado de gente, em um trajeto demorado, uma centelha de esperança me atingiu discretamente. Não, não era bem esperança. Era uma ideia, um princípio de ideia, que crescia devagar entre os outros pensamentos. Talvez fosse menos que ideia e mais uma reflexão. Uma reflexão sobre a espera do extraordinário e o sentimento que a acompanhava, esmagando meu peito e me fazendo sentir vergonha de mim. Esse sentimento persistente, que impede a real contemplação da vitória de alguém próximo, recebe o nome de inveja e assume a pesada carga de ser um "pecado". Mas, no fundo, esse é um sentimento mais mal falado do que mal vivido. Digo isso porque penso que ter inveja da alegria do outro não é, necessariamente, querer roubá-la para si, mas o desejo de compartilhá-la em igual intensidade. Não desejaria subir ao pódio sozinha, deve ser solitário. Antes, queria ser feliz em conjunto. E só. E se todos os conjuntos de todo mundo fossem felizes, então talvez não houvesse tristeza, sei lá.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Mas eu falava sobre uma ideia... Ideia que veio de uma pergunta inicial: enquanto o extraordinário pessoal não vem, como lidar com o extraordinário alheio? Então, já fora do ônibus, enquanto caminhava para casa, lembrei do livro dentro da minha bolsa. Do meu livro. Do livro do Júlio Cortázar. Das suas palavras na minha cabeça. Meu, seus, nossos. Numa simples combinação de pronomes, encontrei uma resposta: o mundo não é um grande livro, nem as pessoas são como capítulos dele. Não. Talvez ele seja uma grande biblioteca e cada um de nós seja um livro à parte. Cada qual com a sua própria história e que, por ser pessoal, não requer comparação, nem a mesma velocidade de narrativa. Importa lá que eu não traga uma grande contribuição para a humanidade, como o Einstein? A humanidade é uma abstração. Eu sou real. O que de fato importa é a história do meu livro, esse que tem sido construído há cada dia. E se eu sou sua autora e principal leitora, não existe essa coisa de história desinteressante, não é mesmo?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Enfim, camarada, hoje foi <strike>só </strike>mais um dia. Espero escrever mais um trecho amanhã.</span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-3881371093800973182017-03-02T05:06:00.001-08:002017-03-15T07:50:39.799-07:00"O LEITOR DO TREM DAS 6H27"<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRgdWxpDZRFuGIdfETBakMvYOYZni8VpOPV2Bo8gRyrYhnuFr5wlI0Rktpe6P8pgVqTPvBZS42U1peQZXlLcDUfl1M5BgNPHJmd5otnEFmm1rpyuPSkRp1V20Wi7CPKqtSfW5Lhu-r0tY/s1600/o+leitor+do+trem.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRgdWxpDZRFuGIdfETBakMvYOYZni8VpOPV2Bo8gRyrYhnuFr5wlI0Rktpe6P8pgVqTPvBZS42U1peQZXlLcDUfl1M5BgNPHJmd5otnEFmm1rpyuPSkRp1V20Wi7CPKqtSfW5Lhu-r0tY/s320/o+leitor+do+trem.jpg" width="225" /></a></div>
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Pessoalmente, considero que um autor surpreendente não é aquele com fantasia suficiente na cabeça para criar uma série de livros sobre um universo ficcional, mas aquele capaz de desenrolar uma história a partir do que todos temos em comum: a rotina do cotidiano.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Não que a ficção não seja agradável, mas é a outra categoria de histórias que me faz ter importantes diálogos com a minha própria consciência. Talvez, livros sobre o cotidiano nos aproximem mais da humanidade - a nossa e a compartilhada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Durante uma semana acompanhei a vida de Guylain Vignolles, um francês de 36 anos, que divide um apartamento minúsculo (e a vida) com um peixinho dourado. Além disso, ele é amante de livros - embora seu trabalho envolva destruí-los - e possui apenas dois amigos: um amputado que passa a vida caçando as suas pernas para trazê-las de volta pra casa e o outro, um <i>alexandrófilo</i> - um porteiro que intimida ou encanta aos outros não pela sua posição social ou físico, mas pela capacidade de recitar versos alexandrinos em qualquer situação (seja para dar instruções à um motorista de táxi ou receber alguém em sua guarita). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A história dá lugar também à uma outra importante personagem: Julie, zeladora de um banheiro público de um shopping. Julie é... Bem, deixarei que a própria faça a sua apresentação:</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">"Nunca se espera que pessoas responsáveis por banheiros públicos (...) mantenham um diário digitando no teclado do seu laptop. Devemos servir apenas para limpar, de manhã até a noite (...). Espera-se que uma zeladora de banheiro limpe, não que escreva (...). No mundo inferior, até um infeliz computador de dez polegadas ligado ao lado de um pratinho para gorjetas sempre acaba maculando a paisagem (...). Precisei rapidamente me render à evidência de que<b> as pessoas em geral só esperam uma coisa: que você ofereça a imagem daquilo que elas querem que você seja</b>."</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">As vidas de Guylain e Julie se entrelaçam na trama de uma maneira surpreendente, nos fazendo lembrar (porque insistimos em esquecer esta verdade) que o aparentemente comum também pode ser fantástico e que, segundo as palavras do próprio Guylain, <i>"(...) <b>apesar do que possamos pensar, nada na vida é imutável</b>. Mesmo um número tão feio como 14.717 pode acabar se embelezando um dia, contanto que o ajudemos um pouco"</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Talvez, O Leitor do Trem das 6h27, nunca ocupe nas livrarias o lugar de "mais vendido", mas certamente está na categoria de livros que tocou-me irremediavelmente. Uma leitura rápida, confortável e marcante. Recomendo aos que, como eu, sufocados pela rotina, às vezes deixam de perceber a beleza oculta da vida. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">__________ </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Dados da obra</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Título: O Leitor do Trem das 6h27</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Título original: Le Liseur du 6h27</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Autor: Jean-Paul Didierlaurent</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Editora: Intrínseca </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ano de publicação: 2015 </span></span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-7174319404580242242015-11-19T04:10:00.003-08:002017-03-01T14:00:53.681-08:00Álbum<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Em uma mala esquecida nos fundos de casa encontrei pedaços da minha vida. Eram papéis firmes, devidamente cortados em dimensões que desconheço, marcados com sorrisos banguela, franjas bem cortadas, cicatrizes, amigos, avós sem cabelos brancos, primos barrigudos, primos magricelas, tias com cabelos cacheados, tios distraídos em churrascos, uma mãe sarada e um pai tirado a guitarrista. Eram fotografias, tiradas há tanto tempo. Era eu, recém-nascida, construída, vivida. Por que abandonamos o hábito de guardar fotografias? Por que temos estado menos reflexivos sobre nossa própria vida? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Aquelas fotos, tiradas sem nenhuma técnica, me fizeram recordar dos meus momentos de muita e pouca luz, das capturas acidentais e programadas, dos sorrisos espontâneos e artificiais, dos cílios molhados por água da piscina e por lágrimas. Sim, nossa vida é marcada por antíteses que, juntas, completam o álbum que nós somos. Cansei de não registrar os momentos no álbum. Decidi colecionar cada evento para contemplação posterior. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Nos últimos dias tenho colecionado muitas surpresas. Ganhei um presente que talvez tenha passado a vida desejando. Fotografei, adicionei ao álbum da minha vida, guardei para sempre. E quando vierem os momentos de pouca luz (porque eles sempre aparecem), terei muito o que recordar, pois as fotografias boas sempre podem superar as ruins.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Então, querido, te convoco a estar ao meu lado, num enquadramento nem sempre perfeito, disposto a compor as cenas que farão parte do meu cotidiano de agora para sempre.</span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-64132311110195870632015-10-14T18:00:00.003-07:002017-03-01T14:00:28.220-08:00Brasa<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Era um tempo frio, cinzento. Era primavera e as flores nas árvores agitavam-se com o vento que soprava de leste para oeste. Arrepios lhe tomavam o corpo por breves e repetidos momentos, enquanto tentava, em vão, realizar as atividades do cotidiano. Era grande o frio que sentia e a imagem da fogueira queimando na sua cabeça intensificava os calafrios. Queria tocar o fogo, até mesmo tomar a brasa nas mãos. "É perigoso", dizia sua intuição. Mas ainda assim... Precisava daquele calor! Não havia instrumentos para prevenir as queimaduras, as dores seriam agudas e certas, mas agora seu único desejo era ser consumida, virar labaredas daquela fogueira. Viraria cinzas tão logo se deixasse queimar e depois seria levada pelo vento, aquele mesmo vento que soprava para oeste, tentando levar consigo flores, poeira, cinzas, na tentativa de ser mais substancial do que uma brisa de primavera.</span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-64698330585300118422015-06-29T19:43:00.001-07:002017-03-01T15:15:48.011-08:00Corvos<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Os corvos estão por toda parte.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eles me perseguem na vigília e no sono; suas asas negras recaem sobre a minha visão a todo instante. Mas ainda assim vejo com nitidez a desolação ao meu redor, em cores e em movimento, e o meu corpo se move num ritmo frenético, às vezes arqueando e submergindo, às vezes num balanço horizontal, tentando escapar em todas as direções.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Mas ainda assim, os corvos me perseguem. Com seus bicos afiados fazem furos na minha cabeça e deixam fluir problemas. Eles não escoam para o buraco mais próximo. Não. Ficam empoçados ao meu redor, sem jamais me perderem de vista ou de contato.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Às vezes os corvos grasnam e o líquido ao meu redor se revolta, como que atendendo a um chamado, e de repente sou uma garrafa de vidro vazia no meio de uma imensidão oceânica de problemas: flutuando para sempre presa naquele infinito aquoso, correndo risco de rachadura ou quebra, às vezes tão cheia de problemas que chego ao fundo e lá permaneço até que alguém possa me ajudar a sair. Já alcancei a margem de mim mesma, mas os problemas sempre me lambem os pés com suas ondas. Além disso, sempre há corvos me vigiando.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Bicos, asas e olhos negros me perseguem. E eu tenho medo.</span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-36444786701019492962015-05-10T01:23:00.002-07:002017-03-01T14:12:56.899-08:00Entre o alvorecer, lençóis e lembranças<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">É madrugada e a chuva aumentou. O frio aumentou. A saudade de você não poderia ter outro rumo além de aumentar. Eu poderia dizer que sinto saudade da sua voz me dizendo o que quero ouvir, da desproporção e encaixe das nossas mãos, da paz que sinto quando estou contigo, do sorriso que me desfaz e refaz - preciso dizer que o seu sorriso é o melhor do meu mundo. Mas talvez não pudesse. Porque sau-da-de, apesar de trissílaba, já é uma palavra pequena para descrever o que acontece entre nós dois. A chuva lá fora aumentou, enquanto a madrugada virava manhã. Estas foram as únicas transformações do momento; a saudade ainda está aqui, ocupando um espaço generoso do meu travesseiro.</span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-47145450619198886232015-04-06T17:41:00.001-07:002017-03-01T14:13:31.047-08:00Quarta de Cinzas<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Não me diga pra tentar de novo, porque nossa história já incendiou e nós nos queimamos. Toda noite eu lembro como a sua boca queimava nas minhas curvas e do riso abafado pelo peso do seu corpo. E não importa quantas vezes as cenas se repitam na minha cabeça, elas não passam de cenas. Não vou dizer que a cama tem estado fria, porque faço de tudo para mantê-la aquecida. Mas nunca é você, né? No ritmo do sexo, na textura do cabelo, na intensidade dos beijos... Em tudo percebo a sua ausência. Por que você foi estragar nosso enredo? </span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-79653846758242170862015-03-22T15:10:00.001-07:002017-03-02T07:35:49.530-08:00Do Zé,carta 2<div style="text-align: justify;">
Minha jovem, o que tem acontecido com você? Fica aí se vitimizando no banheiro, sofrendo às escondidas. Quer fazer drama? Então abre as cortinas e brilha, meu bem. O palco está aí pra isso. O mundo não vai se importar com as suas lágrimas que não secam. Aliás, ele quer mesmo que você todinha se liquidifique. A crise hídrica chegou no Brasil, né? Desculpa a piada, mas eu queria ver esse furinho na sua bochecha esquerda. Eu o amo, como você sabe. Assim como amo tudo em você. Inclusive esse seu nariz vermelho, como está agora. Só por isso vou te deixar chorar essa noite. Mas amanhã é dia de batom vermelho, combinado? E se for pra tirá-lo, que seja aos beijos, por favor.<br />
<br />
<br />
Te amo e te cuido, então vem cá, querida!<br />
<br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">- recado do Zé</span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-6193861278163967072015-03-20T14:32:00.001-07:002017-03-01T14:14:04.976-08:00Festa<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Quantas vezes vou precisar dizer que não sou vela de aniversário? A chama acabou e não vai reacender no seu estalo de dedos. Não vê? As palmas já silenciaram e eu doei os presentes que recebi. Estou em festa sim, mas você não foi convidado. Admito que serpentinas caíram dos meus olhos, mas agora é tempo de jogar confetes pra cima. É tempo de banhar-me em comemoração. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Me tiraram pra dançar e eu fui pra pista, pra balançar em outro ritmo. Enquanto o mundo girava, meus ouvidos devoravam música, minha boca ouvia o sabor do copo, meus olhos tocavam o corpo que se movia à minha frente, tão desconectado de tudo. Mas eu não era tudo. Eu era, e sou, um não-sei-o-quê singular, cheia de detalhes que você não percebeu, mas que alguém resolveu colecionar.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">E estou te falando essas coisas agora pra que dê meia volta e leve seus balões. Não quero que fique triste. Nem feliz. Só não quero que fique. Adeus.</span></span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-44106484027257765872015-03-18T16:35:00.000-07:002017-03-01T14:14:25.769-08:00you 'sei "game over"<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eu não sou o que você esperava do amor. Na verdade, nem sei se você esperava o amor. Nem sei se você me encontrou. Só sei que fui atingida pelas frases que completamos juntos e pelas músicas que ouvimos juntos, cada um no seu canto, sem se conhecer. Nem sei se a gente se encaixa, mas cansei de tentar jogar Tetris. Fiz tantas jogadas mal planejadas que agora sou um monte de linhas com espaços vazios, que não se completam nunca, e as peças certas foram parar em lugares errados, por isso só quero que esse jogo chegue ao fim. Sim, sei que disse que sou um jogo. E sou mesmo. Às vezes perco, às vezes faço dancinhas da vitória, às vezes tento apagar o placar. Nunca soube jogar, na verdade. Nem sou muito boa com certezas. Nem sei o que sinto por você. Penso nisso enquanto desenho uma estrela meio torta, sob a luz do computador. Estrela. Essa é mais uma daquelas entrelinhas que não farão sentido pra ninguém além de você. Mas você não vai ler isso. Não sei o que você pensa, mas sinto que, comigo, você só quer jogar. Você veio e o jogo chegou ao fim.</span></span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-58585696021454843642015-03-08T12:31:00.000-07:002017-03-01T14:15:20.656-08:00Serviços Gerais<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Hoje é dia de arrumar a casa. Tirar pó, fazer comida, morrer de amores: eis a rotina de cada dia. Pensamentos são como poeira, sabia? Por mais que a gente limpe, sempre há milhões de partículas em volta, suspensas, esperando repousar nos móveis que você acabou de limpar. É um trabalho infinito esse de tentar esquecer o que não deveria ser lembrado ou limpar o que nunca vai ficar imaculado. </span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-81074704841765428182015-03-04T04:47:00.000-08:002017-03-01T14:17:08.064-08:00Bagunçê<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Casa. Vinil. O Idiota. Quarto. Cobertor. Sua. Camisas. Rascunhos. Meu. Eu sei que vou te amar. Vê? É a nossa bagunça de sempre, mas há uma falta nesse lugar. O teu sapato sujo atrás da porta, talvez. Os pratos limpos ao acordar, quem sabe? Tá faltando você aqui, meu bem. Tenho acordado para fechar a janela na madrugada, porque só agora sei o quanto esse apartamento é frio. É estranho habitar o lugar de sempre e não reconhecer o seu entorno. Que lugar sou eu? Esse cômodo vazio aqui dentro, desconheço. Decidi reformar. Desfiz os nós do emaranhado que você deixou e transformei em laços que sustentam o meu sorriso. Ainda penso no nosso casamento no meio da semana, num horário bem inconveniente que é pra dar lugar ao nosso amor no caos da cidade, enquanto o cotidiano engole as outras pessoas. Tenho dançado todos os dias. Isso mesmo: dançar foi acrescido ao meu cotidiano. Percebi, em algum intervalo de lucidez, que apesar de você, tenho um cotidiano que pode ser adaptado à minha própria bagunça. Canetas. Quadrinhos. Olhos nos olhos. Xícara suja. Vê? Minha bagunça faz sentido sem você. Apesar da reforma, ainda é complicado aqui dentro.</span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-65312739211244848322015-02-23T19:14:00.003-08:002017-03-01T14:17:36.183-08:00Origami<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E se eu disser que lembro de você sempre que vejo um avião no céu a noite? E se eu disser que vejo um avião emoldurado na janela do meu quarto, toda noite, a cada 10min? Assim você vai ter ideia do quanto sinto sua falta? Já sei que é tempo demais. Mas também é futuro demais, lembranças demais, promessas demais, colo demais... E um amor que não passa nunca. É demais eu sei. Por isso estou me dobrando, me amassando pelas esquinas, me cortando nas dobraduras e distribuindo meus pedaços. Tô me desfazendo de mim, meu bem, pra tentar ser menos nós dois. Porque essa coisa de ser completa já não faz mais nenhum sentido.</span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-74712683839919657632015-02-21T17:31:00.001-08:002017-03-01T14:18:54.610-08:00Permissão<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Você vai ser feliz sim. E ninguém fará com que seja o contrário disso. Vai ter um sorriso estampado no seu rosto quando você acordar e, na rua, todos verão que a felicidade fez de você morada. E mesmo ela sendo tão grande, haverá espaço de sobra para as coisas boas: arrepios diante de toques suaves e inesperados, beijos na testa de gente que realmente se importa, gotas de chuva num dia caloroso. E vai ter vontade de rodopiar toda vez que for comprar o pão. Vai ter vontade de ficar consigo mesma. Vai ter vontade de assobiar sempre que estiver na janela. À propósito, saiba que passará muito tempo lá, sonhando de pé, com os pés no chão, pensando no presente. Porque a realidade será bonita pra você, querida. Mas tudo isso será amanhã. Hoje você tem o direito de tomar um chá e ficar encolhida na cama, olhando a chuva, enquanto vive no presente cenas que ocorreram num passado próximo e breve.</span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-23307413225250662542015-02-18T08:50:00.001-08:002017-03-01T14:22:27.492-08:00Impropério<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ela vai chegar com aquela boca vermelha que tanto amo. Porra de batom! Tira toda minha lucidez. Se quer saber, querida, perco o ar ao te ver abrir e fechar a boca. Cada palavra que sai de você envolve o meu cérebro e o transforma em merda. Você e o seu abre e fecha de boca. Abre e fecha. Abre e fecha. Abre e fecha...e me captura. Como um animalzinho, me perco dentro de você. Me perco em suas curvas. Você parece uma estrada sinuosa, com morros que me prendem a atenção e me deixam mais perto das nuvens. Em você eu viro rio em segundos. E eu sei que você odeia a rapidez com que me transponho, mas não consegue entender,querida? Você carrega algum encantamento, de modo que é impossível habitar o seu corpo, por algum tempo, sem se deixar levar. Não prometo que farei o possível para encontrar uma poção que te livre do encantamento, porque você sabe muito bem da minha vocação para vilão. Desculpe, mas terei que parar com os devaneios, porque você se aproxima.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Beijo-a com avidez e o rio começa a correr dentro de mim.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Você pensa que sou uma dessas garotas que come depois da aula. Sim, eu sei sobre elas. Até imagino você e o seu ego crescendo e o seu gozo solitário acabando dentro de segundos. E as garotas sem tempo de dizer “Oh, baby, I need...” E a necessidade, interrompida, fica contida nelas mesmas. Mas minha relação com você é de outra natureza. Eu não perco o assunto da aula por me concentrar nos seus lábios. Eu não me arrumo especialmente pra você. Eu gosto de quem sou e de como sou e é sorte sua gostar também do meu sutiã rendado, do meu batom vermelho, das minhas curvas naturais. É muita sorte tua que eu deixe você me percorrer “sem pagar pedágio”. E essas aspas são só pra dizer que você paga, sim. Mesmo sem saber. O calor da sua língua em mim vale muito. Os seus beijos infinitos valem muito mais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>- Não, não apague a luz! Não preciso da escuridão, quero-te com toda certeza.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O seu vestido e a minha camisa estão fundidos no chão. Sua calcinha já nem sei qual é a cor. Preta? Roxa? Vermelha? Prateada? Não importa. Querida, você é feita de todas as cores do mundo e eu sou, ao mesmo tempo, o artista que te possui e o admirador que te contempla. Essa luz de fim de tarde, filtrada pelas cortinas, paira sobre o seu corpo nu e tenho certeza que o mundo foi estrategicamente planejado para fazer de ti um espetáculo iluminado. Aqui, deitado entre o nosso suor, com a sua cabeça apoiada no meu peito e a sua respiração me fazendo cócegas, amo-a silenciosamente. Ainda que não saibas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>E ela sorri enquanto dorme, sem saber se sonha ou se a vida finalmente resolveu ficar melhor.</i></span></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-88813070381351448692015-02-18T07:33:00.002-08:002017-03-01T14:23:22.758-08:00Fronteira<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Era inacreditável tê-la nos braços. O toque da sua blusa de seda na minha pele, o toque das suas mãos tirando os meus botões das suas casas e, ao mesmo tempo, dando abrigo ao meu coração... A sua boca é tão macia que imagino a minha língua como um avião, entrecortando nuvens, perdendo-se no infinito.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Eu nem consigo descrever as sensações que o corpo dele causa no meu. Quando me toca, tudo se modifica e o mundo além de nós dois não existe mais. Ter o seu rosto entre as mãos e poder olhar cada detalhe seu, demoradamente, é como escalar a montanha mais alta do mundo e ter a glória de olhar sozinha tudo lá embaixo. Mesmo que eu não esteja sempre olhando de cima.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Acho uma graça como o seu cabelo vai ficando mais fininho perto da nuca e como ela me toca demoradamente, como se cada marca no meu rosto fosse preciosa. Absolutamente, amo o seu sorriso tímido e confiante, que só eu posso ver, de quando faz algo pouco convencional na tentativa de me dar mais prazer. E ela sempre consegue.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Amo quando lhe falta ar e forças para fazer algo além de uma hesitação. Significa que a minha tentativa foi bem sucedida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>- Achei o meu lugar! – disseram juntos.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i><br /></i></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i><br /></i></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #999999;">(parece inacabado, mas certas coisas não deveriam ter fim)</span></span></div>
<br />Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-7010041098532644332015-02-15T04:04:00.000-08:002017-03-01T14:25:49.518-08:00(mar)drugada<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Eu sinto tanto<br /><br /><br />A sua falta, seu sorriso tão tímido que ainda desponta vez ou outra no meu coração, o seu idioma cheio de palavras tristes.<br /><br /><br />Eu sinto tanto.<br /><br /><br />Pelo caos aparentemente eterno na sua cabeça. Você tem aí dentro uma Av. Paulista em pleno horário de pico. E eu tentei melhorar seu fluxo: fiz dos meus braços pontes, do meu melhor sorriso, semáforo verde. Fui agente pensando na gente, meu bem. Mas meu contrato foi revogado e o seu tráfego continua complicado. Eu fui e você ficou com seus pensamentos suicidas.<br /><br /><br />E eu sinto tanto.<br /><br /><br />Porque sei que era triste e desajustado comigo, mas o seu sorriso enquanto dormia na minha cama, lá pelas tantas da madrugada, me fazia pensar que você pode ser tão confuso quanto o mar: cheio de vai-e-vens, surpresas escondidas, dias de agitação e outros de calmaria. E só você sabe o quanto gosto de me jogar mardrugada adentro.<br /><br /><br />Já é tarde, eu sei. Mas pode ser cedo. A madrugada é minha e eu a vejo como bem quiser; e eu a vejo como nossa, meu bem. Te espero. Não precisa ser feliz ou triste, basta ser você.</span><br /><br /><br /><br /><br />
<br />Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3771076581293522792.post-38629368715865619762015-02-10T11:03:00.000-08:002017-03-01T14:26:21.860-08:00Morangos verdes<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">É escuro agora. No centro desse espelho existem dois infinitos negros que me olham de volta. Você aí, que vem à mim num movimento de vaivém, tão perto e tão longe, por que não me olha nos olhos? De quê adianta beijar sua boca e tocar sua roupa se não posso entrelaçar minha alma na sua? É como chegar perto do mar num dia quente e tocá-lo apenas com as pontas dos pés.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Pare de olhar ao meu redor e veja dentro. É tão fácil me despir para você e é uma tortura que o veja partir a cada vez que faço isso. É triste poder voar tão alto e não ter quem me segure. Sinto-me um balão perdido por alguém, voando sem destino, sem atar-me a lugar nenhum, sem trazer alegria a ninguém, mesmo sendo tão brilhante e colorido.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Por que você está vestido ainda, querido? Por que as tuas roupas são uma armadura e a tua presença uma armadilha? Ainda se eu tivesse uma espada nas mãos, mas o que tenho são só as minhas mãos sedentas por cuidar de você. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A areia da minha ampulheta está quase no fim, enquanto estou à sua espera. Mas o seu tempo acabou tantas vezes e já não tenho vergonha de, humildemente, virar o lado da ampulheta mais uma vez, porque passei a contar os dias pelos arrepios voluntários diante da tua lembrança. Mas a minha boca não é tão humilde quanto o meu tempo de espera. Ela exige a sua presença a todo instante. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Já aceitei que essa nossa história é sobre esperar e não fazer projeções para o futuro. Difícil é não me prender ao passado quando tenho mais acesso à lembranças suas do que a sua existência ao meu lado. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E eu estou te dizendo todas estas coisas porque esperar sem ação não combina comigo. Te quero agora, tal como os morangos verdes que colhia no pomar da minha vó, sem paciência para esperá-los amadurecer. Eram deliciosos. E você?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Camila Vivashttp://www.blogger.com/profile/08639821876600775079noreply@blogger.com0